Um cigarro de palha ou um copo de cerveja..

’Quando se precisa de algo, de algo novo, precisa-se também de três coisas: Um cigarro de palha, um bloco de notas e um copo de cerveja.
Digo isso porque sei muito bem da missa inteira. Fumei todos os encontros da minha vida, aqueles cheios de beijos, cheios de abraços, aqueles com choros, aqueles meus amores... Todos os encontros e desencontros possíveis. Pode apostar.
Sabe que os fumei por medo de esquecê-los (pois tenho de confessar que meus neurônios estão totalmente gastos), os fumei porque achei que seria melhor guardá-los em algo que imaginaria ser sólido, que minha sanidade não poderia alcançar e acredite, isso os manteram perto de mim em flashes constantes e fantásticos!
Como hoje sei que tenho tudo em meus pulmões deixando minha respiração mais leve e calma, anotei meus sonhos mais intensos e meus desejos mais loucos naquele bloco de papel. Mas era feito com papel reciclável, de preferência. Fiz o que achei melhor e garanti minha paixão em fúria pela natureza e acredite também, isso me ajudou muito, lembro-me de ter adotado mais ou menos dez cachorros, doado uma grande quantia em dinheiro para orfanatos e feito protestos a favor da natureza... Não sei se ajudei muito, as pessoas deram continuidade a toda àquela crueldade que só elas sabem dar início, mas mesmo assim minha bondade continuou exalando seu perfume doce por onde passava. Mas não pense que anotei apenas isso, pelo contrário meu caro, anotei todas as minhas conquistas, minhas vitórias, meus suspiros de alivio, de paixão... Quem vive sabe o quão satisfatório é aquele alívio depois de toda uma tensão, de toda uma apreensão indesejada ou então, o bater incontrolável de nossos corações ao ver chegar à pessoa amada.
Acontece que, quando se precisa de algo novo, inovar nem sempre se torna aceitável, então aí vem a melhor parte, aquela que deixa tua boca salivando desesperadamente. É, aquela mesmo, a do copo de cerveja. Porque ai, neste lado da vírgula e dos pontos finais, você engole todas as coisas ruins que aconteceram no decorrer de tua vida, é quando você as deixa ir com plena satisfação. Mas você as deixa ir mesmo e não adianta tentar recuperá-las porque não vai conseguir, a menos que queira mexer naquela tua ferida mais profunda, aquela que demorou muito tempo para cicatrizar e acredite, esse tempo não se resumiu em três dias, uma semana, quatro meses ou cinqüenta anos, esse tempo correu toda a tua vida, essa ferida te acompanhou desde o início até o fim de tudo, mas creio que não vá querer cutucá-la agora, justo agora. Mas talvez também seja necessária uma nova história ou quem sabe, algo que não possamos confessar, pois uma adoração às vezes pode não se tornar tão explícita assim, mas o prazer imenso de adorar já se torna insubstituível. E apesar de existirem todos os poréns possíveis, de todas as maneiras possíveis e existentes, um ponto e vírgula podem ter um significado esplêndido também. ’’